Viver é ter que confiar. Mas confiar em que? Há em nós uma profunda necessidade de sentirmo-nos em estado de confiança. No entanto, quantas vezes a vida nos surpreende: não era nada daquilo que pensávamos. A pessoa por quem tínhamos tanta estima revela um lado pouco fiel e verdadeiro. Nossos próprios atos que julgávamos corretos se mostram errôneos. Nossas esperanças tão longamente acalentadas, aquele projeto construído com tanto empenho dentro de nós mesmos se revela inviável. O amor que tínhamos por certo se vai. O trabalho a que dedicamos nosso melhor esforço é perdido, você se descobre substituível tão facilmente. Enfim, são tantas as vezes em que sentimos traída nossa confiança e ficamos profundamente feridos, perplexos, revoltados, tristes. A reação depende das circunstâncias e de sua gravidade, mas depende também de como você as encara e de suas experiências passadas que talvez já lhe tenham dado o necessário distanciamento para não sucumbir.
Sim, distanciamento! Eis uma palavra importante. Como tudo na vida é transitório e mutável, o distanciamento se faz necessário. Estudar o Zen Budismo tem me ajudado a trabalhar esta questão, e sugiro que todos façam o mesmo. O mundo pode ser um surpreendente jogo político, as pessoas podem usar máscaras tão perfeitas que se torna difícil identifica-las como falsas identidades. Em tudo há, em certo grau, um jogo de interesses. Aqueles que hoje o elogiam amanhã poderão ser seus críticos. Então, não entre de cabeça nas ilusões do agora, nas previsões de futuro, viva com cuidado a cada dia. E confie realmente em quem lhe deu muitos motivos para tal, em quem você já teve a oportunidade de conhecer bem. Mesmo assim não perca de vista que a vida é uma constante mudança e nada é definitivamente nosso, nem nossa casa, nem nosso corpo, nem aqueles ou aquilo que amamos. Isto nos parece cruel, mas é real.
Confiar em que então? Talvez confiarmos em nós mesmos, nos fortalecermos e nos conhecermos bem para que sempre possamos contar com nossa lucidez e nosso apoio incondicional a nós mesmos. Sempre estaremos conosco, logo é bom que sejamos uma boa companhia, alguém que nos incentiva sem iludir-nos. Que permanece centrada e consciente do que é e do que faz, não importa o que aconteça a sua volta. E talvez confiarmos que somos maiores do que parecemos, não maiores no sentido do mundo exterior, mas no sentido do nosso ser interno. Nele há uma fonte de forças que podemos nem suspeitar que existe. Para permitirmos que esta nossa força interior, este guia que é a nossa consciência ampliada, se manifeste é preciso ter serenidade. O desespero é o pior dos conselheiros. Quando for surpreendido por uma brusca mudança em sua vida, procure primeiro a paz interior, o silêncio e a confiança nesta força que se manifestará. Ela só pode existir se você acreditar nisso, pois esta força é você mesma, sua inteligência, sua memória, sua capacidade de lidar com os fatos a seu favor. Lembre-se porém que isto só acontece quando a ansiedade não impede você de ver e sentir com clareza o que lhe diz seu ser interior. Nós recebemos tantos tipos de radiações cósmicas, como nos explicam os cientistas, porque não podemos receber emanações de calma e sabedoria através de nosso ser interior. É nesta nossa consciência ampliada e conectada com as forças protetoras so universo que vejo o melhor ponto de apoio. O amigo pode ajudar, alguém pode lhe dar a mão e confortar. Mas você cresceu e precisa saber cuidar de si, enfrentando o que vier com a serena confiança de que encontrará um novo e melhor caminho quando um velho o decepcionar. Seu guia interior saberá encontrá-lo e transformar esta dor atual em uma nova oportunidade na constante mudança que é a vida.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário