Há três anos trabalho com pacientes de uma unidade médica para tratamento de usuários de álcool e outras drogas. Aqui predomina a dependência ao álcool entre os mais idosos. Entre os jovens o crack é a droga mais consumida e provoca graves níveis de dependência química pela natureza da substância. O crack vem matando nossos jovens, especialmente os mais pobres, em proporções alarmantes. Eles acabam se envolvendo com o crime, morrem por causa de dívidas com os traficantes e por uma infinidade de razões que banalizam o assassinato neste meio.
O que está acontecendo? Eis uma questão a ser proposta para toda a sociedade, pois a violência não se restringe aos usuários. A violência nos atinge diariamente. Os próprios pacientes relatam sentir-se super homens sob efeito desta droga, e capazes de qualquer ato para conseguir dinheiro e comprar mais e mais. Por isto eles assaltam e matam com tanta facilidade.
Alguma coisa está faltando na sociedade humana, ela parece não nos oferecer as fontes de energia de que tanto necessitamos e cada vez mais as pessoas recorrem a modificação química da realidade. Particularmente, creio na afirmativa de Freud de que "nada é mais essencial ao homem que o desejo de sentir-se amado". Acho também que ele está muito certo ao dizer que "só o amor pode atuar como fator civilizador". Mas, neste caso, estamos em graves dificuldades pois a sociedade humana é, sob muitos aspectos, predadora, psicopática e perversa. Sua meta nunca foi o coração do homem, o desenvolvimento de suas potencialidades e seu direito a vida digna.
Eu não defendo os ue praticam a violência e sou contrária a impunidade. Apenas aqui quero sugerir uma reflexão sobre o tipo de energia que nos falta, sobre as condições que distorcem a mente humana ao ponto de banalizar a vida. Certamente há algo errado com nossa visão de mundo e nosso conceito de sociedade normal.
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